domingo, 14 de outubro de 2012

Amores


Ele olhou profundamente pra aquela alma machucada. Reconheceu-se em muitas feridas e teve compaixão. Teve cuidado ao transpor a barreira divisória. Atravessou a linha invisível. Passou direto, sabia a senha desde o princípio. Ao chegar ao salão principal, ouviu os sinais sonoros, respirou através dos suspiros e, sempre com leveza, chegou ao topo do castelo. Lá, deitou um olhar mais longo pra aquele coração incendiado, os olhos brilhando de uma felicidade há tanto tempo esquecida. Sorriu de volta. Nesse instante, a energia tornou-se limpa, recarregada e multiplicada, enchendo os peitos nus de um constante potencial incondicional.


Seus




Perder-se em outro corpo
é encontrar-se no pólo oposto
é olhar no espelho

De cabeça pra baixo
de fora pra dentro
de infinitas posições

as quais você não controle

por nem sequer um instante...

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Restos



O amor é uma ressaca eterna. Ressaca física, moral, psicológica, patológica e até mesmo contagiosa. Invade e perturba-nos no tédio, nos sonhos, no ônibus. Quando inconsciente, a tradução à consciência é rápida e dolorosa. A necessidade de intensidade faz com que corramos atrás do porre e nos embriaguemos até que o coração se despedace em restos de nós mesmos em sanitários e sanatórios sujos e corrompidos de ressacas alheias.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Mágicos


Ríamos como crianças no parque, e chorávamos diante da beleza de existir. O muro derretia, assim como minha alma diante daquela profunda viagem em si mesmo. O céu me chamava, me expulsava, girava e voltava ao mesmo lugar. Tudo em questão de segundos. Quisemos subir no muro para ver o pôr-do-sol, e nos deparamos com um singelo quintal de avó. Não tínhamos onde buscar forças para levantar para trocar de música, pois esse ato nos privaria daquele pedacinho de céu por alguns minutos, e eram minutos sagrados. A música nos transmitia calma. Ela ajudou a tornar o mundo mais óbvio aos nossos olhos. Aquele momento que fomos à caça do paraíso parecia um passado muito distante. E o paraíso tornou-se infinito. 


O infinito tornou-se o único sentido.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Presos




Sentir seu corpo abandonado sobre o meu
descansando como se o ontem nunca tivesse ido
assim como o amanhã nunca viria a ser

Ser seu calor
seu alimento
sua sina

ser seu

a cortina entreaberta
o sol lá fora nascendo um novo ciclo
tudo que desceu nesse instante se eleva
diante do nosso amor

a madrugada durando vidas
segundos séculos
Até que o tempo desaparecesse por completo

estar preso ao espaço é divino

quando as montanhas são as curvas de suas costas
os rios a sua saliva
a umidade o suor que nos pinga sem cessar...



os habitantes desse mundo somos nós
os criadores dele também.


1



Vontade de vomitar. Palavras. Colocar tudo pra fora, tirar lá do fundo aquilo que entope a garganta, o estômago, o coração, a alma. Aquele sentimento que despede e não vai embora, liga e nada fala, chama e logo se esconde. Uma vontade louca de provar que o vazio da vida nada mais é do que a sombra da essência do universo, e de todos os astros que o orbitam. Um sentimento de planeta distante que gira até encontrar sua lua ou seu sol, que se reconstrói e destrói a cada segundo, a cada estrela cadente. Estrela que na verdade nunca caiu ou subiu, só existe.